Dr. Gustavo Pires
(médico responsável pelo DM do CSC)
Inicialmente gostaria de dizer que nós estamos bastante tranquilos em relação à polêmica atribuída a este caso específico. Na verdade acho que nem deveríamos vir a público para prestar qualquer esclarecimento, mas como nestes últimos quinze dias, já é a segunda vez que especulações envolvendo este departamento são levantadas pela imprensa, achei de bom tom fazer chegar em primeira mão até você, a quem renovo meus votos de confiança e admiração profissional, algumas explicações sobre o tema, antes que esta desnecessária polêmica possa tomar um vulto maior.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para esclarecer à imprensa e aos nossos torcedores como são feitas as avaliações admissionais dos atletas no futebol profissional do CSC. A maioria das pessoas tem uma visão distorcida do real papel do departamento médico no exame pré-participação dos jogadores. Vejamos então de maneira didática e “sucinta” alguns pontos:
a) Os exames admissionais tem por objetivo primordial a segurança e integridade do atleta antes de qualquer outra coisa. Sob este prisma, os principais exames e avaliações executadas são os de natureza cardiovasculares, a fim de se evitar ou ao menos minimizar, as chances de ocorrência de morte súbita do atleta.
b) Secundariamente, os exames admissionais buscam atestar as condições de saúde geral e específicas para a prática do esporte visando protejer, desta forma, o investimento da agremiação contratante. Sob este prisma, doenças e lesões agudas e/ou crônicas são investigadas e avaliadas.
c) Aqui o principal esclarecimento: Na grande maioria das vezes NÃO CABE AO MÉDICO DO CLUBE A DECISÃO FINAL SOBRE CONTRATAR OU NÃO DETERMINADO ATLETA. Em outras palavras, não deve ser papel do médico vetar ou deixar de vetar qualquer contratação, SALVO nos casos onde sejam constatados situações de agravo à saúde com risco iminente de morte, onde, nestes casos, o veto é obrigatório até mesmo sob o ponto de vista legal. O verdadeiro papel do médico é reunir todos os dados obtidos nas diversas avaliações clínicas, físicas e laboratoriais e elaborar um relatório final para a diretoria onde, neste relatório, conste uma ESTRATIFICAÇÃO DOS RISCOS envolvidos na contratação de cada atleta.
d) Em resumo, o parecer final do médico do clube só pode ser umas das duas possibilidades a seguir: 1- O atleta está INAPTO para a prática de esporte competitivo (por tempo indeterminado ou determinado); ou 2- Está APTO para a prática de esporte competitivo sendo o risco de sua contratação BAIXO, MÉDIO ou ALTO (considerando-se os resultados das avaliações bem como o histórico pregresso de cada atleta)
e) De posse do relatório médico, a diretoria do clube ira reunir vários outros fatores e/ou interesses que podem levar à decisão de contratação de atletas cujos relatórios médicos apontavam claramente para uma contratação de eventual alto risco. Não raro, mesmo aqueles atletas considerados inaptos por tempo determinado, por exemplo, atletas vindos de lesões ou pós operatórios, são contratados considerando o projeto futuro após resolvidas a condição incapacitante do atleta.
Por este motivo é que frequentemente dou risadas quando vejo alguns torcedores e alguns membros da imprensa criticar o DM por terem, eventualmente, aprovado a contratação de jogadores taxados de “bichados”, sem saber se por trás disso, não havia um projeto futuro determinado pela diretoria para estes atletas.
Quanto ao caso específico do atleta Belletti, seria uma ingenuidade pensar que nós no Ceará, não sabíamos dos riscos envolvidos nesta contratação. Não é preciso ser médico para concluir, através de uma simples pesquisa no Google, que a contratação de um atleta veterano com o histórico recente de múltiplas lesões musculares no Fluminense, seria uma contratação rotineira. Todos nós estávamos cientes dos riscos.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para esclarecer à imprensa e aos nossos torcedores como são feitas as avaliações admissionais dos atletas no futebol profissional do CSC. A maioria das pessoas tem uma visão distorcida do real papel do departamento médico no exame pré-participação dos jogadores. Vejamos então de maneira didática e “sucinta” alguns pontos:
a) Os exames admissionais tem por objetivo primordial a segurança e integridade do atleta antes de qualquer outra coisa. Sob este prisma, os principais exames e avaliações executadas são os de natureza cardiovasculares, a fim de se evitar ou ao menos minimizar, as chances de ocorrência de morte súbita do atleta.
b) Secundariamente, os exames admissionais buscam atestar as condições de saúde geral e específicas para a prática do esporte visando protejer, desta forma, o investimento da agremiação contratante. Sob este prisma, doenças e lesões agudas e/ou crônicas são investigadas e avaliadas.
c) Aqui o principal esclarecimento: Na grande maioria das vezes NÃO CABE AO MÉDICO DO CLUBE A DECISÃO FINAL SOBRE CONTRATAR OU NÃO DETERMINADO ATLETA. Em outras palavras, não deve ser papel do médico vetar ou deixar de vetar qualquer contratação, SALVO nos casos onde sejam constatados situações de agravo à saúde com risco iminente de morte, onde, nestes casos, o veto é obrigatório até mesmo sob o ponto de vista legal. O verdadeiro papel do médico é reunir todos os dados obtidos nas diversas avaliações clínicas, físicas e laboratoriais e elaborar um relatório final para a diretoria onde, neste relatório, conste uma ESTRATIFICAÇÃO DOS RISCOS envolvidos na contratação de cada atleta.
d) Em resumo, o parecer final do médico do clube só pode ser umas das duas possibilidades a seguir: 1- O atleta está INAPTO para a prática de esporte competitivo (por tempo indeterminado ou determinado); ou 2- Está APTO para a prática de esporte competitivo sendo o risco de sua contratação BAIXO, MÉDIO ou ALTO (considerando-se os resultados das avaliações bem como o histórico pregresso de cada atleta)
e) De posse do relatório médico, a diretoria do clube ira reunir vários outros fatores e/ou interesses que podem levar à decisão de contratação de atletas cujos relatórios médicos apontavam claramente para uma contratação de eventual alto risco. Não raro, mesmo aqueles atletas considerados inaptos por tempo determinado, por exemplo, atletas vindos de lesões ou pós operatórios, são contratados considerando o projeto futuro após resolvidas a condição incapacitante do atleta.
Por este motivo é que frequentemente dou risadas quando vejo alguns torcedores e alguns membros da imprensa criticar o DM por terem, eventualmente, aprovado a contratação de jogadores taxados de “bichados”, sem saber se por trás disso, não havia um projeto futuro determinado pela diretoria para estes atletas.
Quanto ao caso específico do atleta Belletti, seria uma ingenuidade pensar que nós no Ceará, não sabíamos dos riscos envolvidos nesta contratação. Não é preciso ser médico para concluir, através de uma simples pesquisa no Google, que a contratação de um atleta veterano com o histórico recente de múltiplas lesões musculares no Fluminense, seria uma contratação rotineira. Todos nós estávamos cientes dos riscos.
Por outro lado, não é factível nem aos grandes clubes do Brasil e do Mundo, submeter um atleta a exames de imagens de todas suas lesões pregressas. Imagine o custo de se fazer várias ressonâncias (no mínimo 5 por atleta) para rastrear a musculatura das duas pernas e pelve. Tudo isto está apenas no imaginário de quem não conhece a realidade da medicina esportiva.
Qualquer atleta, se estiver imbuído de má fé, pode esconder determinadas situações dos exames médicos. Não existe nenhum maneira 100% eficaz de rastreamento. Todos nós, médicos que trabalham no esporte profissional, já erramos em nossas avaliações. Não há vergonha nenhuma em reconhecer isto, uma vez que a medicina não é ciência exata.
Eu estava no exterior na semana que o atleta chegou no Ceará, porém de lá mesmo, procurei entrar em contato com médico ligado ao Fluminense para saber de seu histórico. Hoje, através da CNMF – Comissão Nacional de Médicos do Futebol, orgão ligado à CBF que reúne os médicos de todos os clubes das séries A e B do Brasil, a troca de informações entre os departamentos médicos se dá de maneira muito mais frequente do que antigamente.
O atleta passou pelos exames básicos com outros médicos do nosso DM e a sua avaliação ortopédica inicial não apontou nenhuma condição aguda que o impedisse de treinar, tanto é que o mesmo ainda realizou alguns treinos físicos leves. Mas todos nós sabíamos da dificuldade que teríamos em colocá-lo em nível de jogo novamente haja vista seu histórico de lesões. Foi uma aposta que todos fizemos em conjunto. Apenas não esperávamos que o protagonista desistisse tão cedo. Mas ele deve ter sua razões. E se foi mesmo a dor (que é uma avaliação totalmente subjetiva) o principal motivo que o levou a desistir de insistir, acho que devemos respeitar sua decisão. Trata-se de um profissional sério e com um currículo invejável. Mas trata-se sobretudo de um ser humano, e temos obrigação de respeitá-lo como tal. Se a maneira que ele o fez para anunciar não foi a mais ética, não cabe a este departamento julgá-lo por isso. Se ele não respeitou o contrato, para isso temos nossos diretores e nosso jurídico. Na verdade eu considero que sua decisão foi acima de tudo respeitosa para o Ceará. Muito pior seria o atleta, treinar alguns dias e se encostar no DM sei lá por quanto tempo.
Saudações alvinegras
Um abraço,
Desculpe pelo longo email. Sinta-se livre para torná-lo público em seu todo ou em trechos.
Gustavo Pires
Departamento Médico
Ceará Sporting ClubUm abraço,
Desculpe pelo longo email. Sinta-se livre para torná-lo público em seu todo ou em trechos.
Gustavo Pires
Departamento Médico
Fonte: http://blog.opovo.com.br/gol/
Este esclarecimento foi ótimo. Totalmente esclarecedor.Acredito que deva servir pra calar a boca de todos.É porque tem gente que faz tempestade em copo dágua.
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